Estudo Bíblico - Imerecida Graça
Domingo 06 de Janeiro de 2013
IMERECIDA GRAÇA
Há
aproximadamente cem anos, Julia H. Johnson compôs a letra de um hino intitulado Grace
Greater Than Our Sin [“Graça Maior que o Nosso Pecado”; conhecido em
português pelo título: Graça de Deus, Infinito Amor]. A quarta
estrofe desse hino sintetiza com muita propriedade o conceito da graça de Deus:
Maravilhosa,
incomparável graça,
concedida livremente a todo
o que nEle crer;
tu que anelas ver Sua face,
queres neste instante
Sua graça receber?
incomparável graça,
concedida livremente a todo
o que nEle crer;
tu que anelas ver Sua face,
queres neste instante
Sua graça receber?
Nós
que recebemos a graça de Deus por intermédio de Jesus Cristo, de fato,
constatamos quão maravilhosa e incomparável é essa graça. Entretanto, qual é o
significado da expressão Graça de Deus?
A Definição da Graça de Deus
A
definição encontrada em um dicionário para o termo graça é a
seguinte: “O favor imerecido que Deus concede ao homem”. Embora tal definição
seja verdadeira, é incompleta. Graça é um atributo de Deus, um componente do
caráter divino, demonstrada por Ele através da bondade para com o ser humano
pecador que não merece o Seu favor.
Um
Deus santo não tem nenhuma obrigação de conceder graça a pecadores, mas Ele
assim o faz segundo o bem querer da Sua vontade. Ele demonstra graça ao
estender Seu favor, Sua misericórdia e Seu amor para suprir a necessidade do
ser humano. Visto que o caráter de Deus é composto de graça, movido por bondade
Ele espontaneamente se dispõe a conceder Sua graça à humanidade pecadora em
nosso tempo de aflição. A graça de Deus pode ser definida como “aquela
qualidade intrínseca do ser ou essência de Deus, pela qual Ele, em Sua
disposição e atitudes, é espontaneamente favorável” a outorgar favor imerecido,
amor e misericórdia àqueles que Ele escolhe dentre a humanidade desmerecedora.
A Declaração da Graça de Deus
Ao
longo de toda a Bíblia, a graça de Deus se manifestou em três estágios. No
primeiro, Deus revelou Sua bondade e graça ao demonstrar misericórdia, favor e
amor para com todos os homens em geral, mas para com Israel em particular. No
segundo estágio, Deus expressou ou apresentou Sua graça, de forma mais clara,
através de Jesus Cristo, o qual veio ao mundo para pagar pelos pecados do homem
mediante Sua morte sacrificial na cruz. No terceiro, a graça de Deus
proporciona salvação e santificação a todos os que, pela fé, confiam em Jesus
Cristo como Salvador e Senhor de suas vidas.
Na Septuaginta, uma
antiga tradução das Escrituras do Antigo Testamento para a língua grega, o
termo grego traduzido por “graça” é charis que significa
“graça ou favor imerecido”. As Escrituras Hebraicas não possuem nenhum termo
hebraico equivalente. Os termos originais hebraicos traduzidos na Septuaginta por charis são chanan ou chen, que
se traduzem por “graça”, “favor” ou “misericórdia”.
Essas
duas palavras hebraicas são usadas no Antigo Testamento para retratar o mesmo
significado de charis: (1) mostrar misericórdia para com o
pobre (Provérbios 14:31); (2) proporcionar misericórdia àqueles que invocam a
Deus em tempo de angústia (Salmos 04:01; 06:02; 31:09); (3) demonstrar favor a
Israel no Egito (Êxodo 03:21; 11.3; 12.36); e (4) conceder (Deus) Sua graça a
determinadas pessoas, tais como Noé (Genesis 06:08), José (Genesis 39:21),
Moisés (Êxodo 33:12,17), e Gideão (Juízes 06:17). Além disso, a graça de Deus
será derramada sobre a nação de Israel no tempo da sua salvação (Zacarias 12:10).
A graça e
a misericórdia também foram manifestadas a nações inteiras. O Senhor, por Sua
graça, libertou o povo de Israel da escravidão no Egito.
Outros
termos hebraicos, tais como,racham ou rachamim (i.e.,
“misericórdia”) echesed (“amor leal” ou “bondade”) muitas vezes
ocorrem juntos no texto hebraico para expressar o conceito da graça de Deus (Êxodo
34:06; Neemias 09:17; Salmos 86:15; 145:08; Joel 02:13; Jonas 04:02). Graça,
amor e misericórdia estão explicitados na aliança de Deus com o rei Davi, a qual
se estendeu a seu filho Salomão mesmo depois que este veio a pecar no decurso
de sua vida (2ª Samuel 07:01-17).
Deus
não outorgou Seu amor e graça a Israel por qualquer mérito dessa nação. Deus
escolheu Israel para que fosse o povo de Sua propriedade exclusiva através de
um ato de pura graça (Deuteronômio 07:06-09).
A
graça e a misericórdia também foram manifestadas a nações inteiras. O Senhor,
por Sua graça, libertou o povo de Israel da escravidão no Egito, supriu as
necessidades da nação durante sua peregrinação no deserto e lhes concedeu a
terra de Canaã. O amor do profeta Oséias por sua esposa Gômer, uma prostituta,
ilustrava a graça e misericórdia de Deus para com Israel. Embora Gômer fosse
uma esposa infiel, Oséias demonstrou-lhe graça, misericórdia e amor, ao resgatá-la
do mercado de escravos pelo pagamento de um preço. Ela tipificava a nação de
Israel redimida da escravidão do pecado.
Pela
graça de Deus a ímpia cidade de Nínive foi poupada da destruição ao
arrepender-se de seu pecado com a pregação de Jonas.
No
Novo Testamento, o conceito de graça encontra uma expressão mais precisa, rica
e completa no termo grego charis, o qual ocorre, no mínimo,
por 170 vezes. A graça de Deus assume uma dimensão pessoal totalmente nova e se
torna evidente ao ser humano nas palavras e obras do ministério redentor de
Jesus Cristo. Que prova maior da graça de Deus poderia ser dada do que essa da
salvação?
Foi o
próprio Deus que, em Sua bondade e graça, tomou a iniciativa de providenciar a
salvação para o homem após a queda de Adão no pecado. A graça de Deus se revela
à humanidade de duas maneiras fundamentais:
A Graça Comum
A
graça comum se refere ao imerecido favor, amor e cuidado providencial de Deus,
estendidos a toda a raça humana em corrupção, pelos quais Deus derrama Suas
bênçãos sobre todos em geral, tanto sobre os salvos quanto sobre os descrentes
(Salmos 145:08-09). Deus refreia Sua ira contra a humanidade pecadora,
concedendo a uma nação ou a uma pessoa o tempo necessário para que se arrependa
– o que vem a ser uma extensão da graça comum do Senhor.
A graça
comum também pode ser constatada na obra do Espírito Santo, quando
este move o coração de uma pessoa ao persuadi-la(lo) e convencê-la(lo) da
necessidade de buscar a salvação por intermédio de Jesus Cristo (João 16:08-11).
A Graça Especial
Graça =
Favor imerecido que Deus concede ao homem.
A
segunda maneira de Deus revelar Seu favor é através da graça especial, comumente
denominada de graça eficaz, efetiva ou graça salvadora. A graça de Deus é
eficaz na medida em que produz salvação na vida dos indivíduos eleitos que
depositam sua fé na morte de Cristo e no sangue que Ele derramou na cruz para
remissão de seus pecados. A graça eficaz é conhecida por experiência no momento
em que Deus, pela instrumentalidade do Espírito Santo, opera de forma
irresistível na mente e no coração de uma pessoa, de modo que o indivíduo
escolha livremente crer em Jesus Cristo como seu Salvador.
Os
crentes em Cristo são chamados, não segundo suas obras de esforço próprio, mas
conforme a “determinação e graça” de Deus (2ª Timóteo 01:09).
O
apóstolo Paulo é um exemplo clássico da chamada eficaz de Deus. Ele foi
chamado, não por sua vontade, mas “pela vontade de Deus” (1ª Corintios 01:01). Na
realidade, ele tentava destruir a Igreja até o momento em que se converteu a
Cristo, conversão essa que ocorreu pela graça de Deus (Atos 09).
A
Demonstração da Graça de Deus
A graça de Deus se evidencia de
diversas maneiras na vida de um crente em Cristo.
Graça Salvadora
A
palavra salvação é um termo abrangente. Refere-se ao ato
redentor de Deus pelo qual Ele, no presente momento, redime o indivíduo da
penalidade e do poder do pecado, e, no futuro, libertará o crente em Cristo da
presença do pecado na ocasião da glorificação dos salvos. A salvação é um dom
gratuito de Deus, concedido a uma pessoa em virtude da graça, por meio da fé,
independente de qualquer obra ou mérito da parte da pessoa que o recebe. No
momento da salvação, a graça imerecida e a fé do crente são dons que procedem diretamente
do Senhor àqueles que põem sua fé em Cristo (Efésios 02:08-09).
A
graça da salvação, oferecida na atual dispensação, inclui cada aspecto da obra
redentora de Deus em favor dos crentes em Jesus e abrange a redenção, a
propiciação, a justificação, o perdão, a santificação, a reconciliação e a
glorificação para aquele que, pela fé, recebe a Cristo.
Graça Santificadora
Deus, por
intermédio do Espírito Santo, providenciou dons espirituais sobrenaturais com o
objetivo de equipar e capacitar cada crente em Cristo para o seu ministério
[i.e., serviço] na igreja local.
Naquele
momento em que a pessoa, pela fé, recebe a Cristo, ele (ou ela) é santificado
pela graça de Deus. A palavra santificação significa “tornar santo”
ou “separar para Deus” com propósito ou uso sagrado. A Bíblia menciona pessoas,
lugares, dias e objetos inanimados consagrados (i.e., separados) a Deus. No que
se refere a um indivíduo, a santificação pode ser definida como a obra da livre
graça de Deus através do Espírito Santo, na qual Ele separa o crente para ser
amoldado ou conforme à imagem de Cristo.
As
Escrituras se referem a três estágios de santificação pela graça de Deus. O
primeiro deles é o da santificação posicional que diz respeito
à posição santa do crente perante Deus, fundamentada na redenção que Cristo
efetuou a seu favor.
O
segundo estágio é o da santificação progressiva, na qual o
crente em Cristo se encontra no processo de ser santificado através da Palavra
de Deus (João 17:17). Os crentes são exortados a crescer “na graça” (2ª
Pedro 03:18); na busca desse crescimento, tornam-se recipientes do favor
imerecido que procede do Senhor. O crescimento na graça não é obtido por meios
naturais, mas se dá através do estudo da Palavra de Deus (2ª Pedro 01:02-03,05-06,08).
À medida que um crente em Jesus cresce na graça, o fruto do Espírito se torna
manifesto através da vida dele ou dela (Gálatas 05:22-23), levando a pessoa a
uma conformidade com a imagem e semelhança de Cristo (Romanos 08:29).
O
terceiro estágio é o da santificação completa ou perfeita, que
os crentes conhecerão por experiência quando receberem seus corpos glorificados
e se completar a sua redenção (Romanos 08:30; Efésios 05:27). Esse
acontecimento se concretizará na ocasião do Arrebatamento da Igreja (1ª Corintios
15:51-52; 1ª Tessalonicenses 04:16-17).
Graça Servidora
A
palavra dom (do termo grego charisma: “dádiva
ou dom da graça”) se refere a um favor que alguém recebe gratuitamente, sem
merecê-lo. Deus, por intermédio do Espírito Santo, providenciou dons
espirituais sobrenaturais com o objetivo de equipar e capacitar cada crente em
Cristo para o seu ministério [i.e., serviço] na igreja local. Não existe apenas
um dom, mas, sim, uma diversidade de dons que o Espírito Santo concede aos
crentes (Romanos 12:06-08; 1ª Coríntios 12:08-11; Efésios 04:07,11-12; 1ª Pedro
04:11).
O
sofrimento faz parte da condição humana, em virtude do pecado, do
envelhecimento do corpo, da desobediência ao Senhor, ou da punição de Deus.
Os
crentes dispõem de “diferentes dons segundo a graça que [por
Deus] nos foi dada” (Romanos 12:06). Alguns crentes possuem
uma abundância de dons, enquanto outros possuem apenas um ou dois. Esses dons,
ou graças, não são dons, talentos ou habilidades naturais; pelo contrário, são
dons proporcionados por Deus, os quais, através do crente, efetuam a edificação
do Corpo de Cristo, rendendo, assim, a glória que pertence a Deus.
No uso
de seu dom, um crente deve se dirigir às outras pessoas com uma atitude de
graça. O apóstolo Paulo declarou: “A vossa conversa seja sempre com graça” (Colossenses
04:06; conforme a Tradução Brasileira). No que dizia respeito ao serviço para o
Senhor, Paulo estava equipado, não com sua própria força e poder, mas com a
graça de Deus que lhe fora outorgada. Ele disse: “...trabalhei muito
mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1ª Coríntios
15:10).
Graça Sofredora
O
sofrimento faz parte da condição humana, em virtude do pecado, do
envelhecimento do corpo, da desobediência ao Senhor, ou da punição de Deus.
Paulo tinha um “espinho na carne” (i.e., uma debilidade física) que ele, por
três vezes, suplicara a Deus para que fosse removido. Cada uma de suas súplicas
recebeu esta mesma resposta: “A minha graça te basta, porque o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2ª Coríntios 12:09). Em outras
palavras, a graça de Deus era suficiente para fortalecer Paulo em sua
dificuldade física, de modo que ele a pudesse suportar. O mesmo acontece com os
crentes nos dias atuais. Deus proporciona a graça suficiente para nos
fortalecer em meio a qualquer provação, tentação ou período de sofrimento.
Paulo
resumiu isso com muita propriedade, quando escreveu: “Porquanto a graça
de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 02:11). Isso
diz tudo. Junto com a compositora daquele hino, cantamos: “Maravilhosa,
infinita, incomparável...” é a surpreendente graça de Deus.
Pense Nisso!
Do
seu irmão e amigo, Samuel;
A graça do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
E o amor de Deus,
E as doces comunhão e consolações do Espírito Santo,
Sejam com todos vós, e todo povo de Deus,
Espalhados sobre a face da terra,
Desde agora e para todo Sempre,
Amém.
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