Estudo Bíblico - O Senhor é meu Pastor
Domingo 09 de Junho
de 2013
O SENHOR
É MEU PASTOR
·
Salmo 23 - O
Senhor é o meu pastor, nada me faltará
O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. O cálice
transbordante é símbolo de alegria ou de ignomínia? A mesa preparada propõe reconciliação com o
inimigo, ou aponta para a vítima da festa? O Salmo 23 é uma parábola que faz
referência a um rebanho, ou é uma profecia acerca de uma ovelha específica? O
Salmo 23 só ganha sentido quando analisado sob o prisma da vítima perfeita
escolhida e preservada por Deus: o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo: "Mas Jesus disse a Pedro:
Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me
deu?" ( Jo 18:11 ).
O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
1.
Deitar-me faz em verdes
pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
2.
Refrigera a minha alma;
guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
3.
Ainda que eu andasse
pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a
tua vara e o teu cajado me consolam.
4.
Preparas uma mesa
perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu
cálice transborda.
5.
Certamente que a bondade
e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa
do SENHOR por longos dias.
Introdução
À época de Jesus, os judeus liam diariamente as
Escrituras porque entendiam que elas contêm vida eterna, porém, quando a vida
eterna que estava junto ao Pai se manifestou, rejeitaram o Verbo da vida ( 1Jo
1:1 -2; Rm 2:20 ). É neste contexto que Jesus disse: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas que de mim testificam" ( Jo 5:39 ).
Para analisar o Salmo 23, seguiremos a orientação
de Jesus: “São elas (as
Escrituras) que de mim testificam”, ou seja, os salmos, os profetas
e a lei apresentam o testemunho de Cristo “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda
convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei
de Moisés, e nos profetas e nos Salmos” (
Lc 24:44 ).
O salmista Davi era
profeta e os seus cânticos são profecias acerca de Cristo em forma de poesia (
Mc 12:36 ; At 2:30 e 1Cr 25:1 ).
O Salmo 23 nos faz lembrar que todos os que creem
em Cristo são ovelhas do Seu rebanho, porém, diferente do que muitos foram
condicionados a pensar, o Salmo 23 não apresenta a expressão de um rebanho de
ovelhas, antes é a expressão de confiança de uma ovelha específica: ‘O Senhor é
o meu pastor...’, e não o Senhor é o ‘nosso’ pastor.
O segredo para interpretar as figuras e os enigmas
do Salmo 23 está em descobrir quem é a pessoa que expressa tamanha confiança em
Deus. Como o salmo 23 não foi composto da perspectiva de um rebanho, antes
apresenta a perspectiva de uma única ovelha, devemos responder a pergunta feita
pelo eunuco da rainha de Candace: "E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem
diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro?" ( At 8:34 ).
Através da exposição
de Filipe fica claro que um profeta não profetiza acerca de si mesmo. Como
profeta, Davi não foi diferente de Isaias, ambos profetizavam acerca do
Messias. Para descobrir quem é a pessoa que assume a condição de ovelha
confiante em Deus é essencial visualizar os salmos como profecias que
apresentam aspectos da vida, morte e ressurreição de Cristo.
Há um aspecto
essencialmente importante a se considerar antes de interpretar o Salmo 23: a
vítima da festa. Para um cordeiro ser oferecido em holocausto, segundo a lei,
devia ter um ano de idade e sem defeito algum, portanto, para a oferta ser
agradável a Deus, o pastor devia dispensar um cuidado especial para com a
vítima.
O cuidado do pastor era indispensável para que a
ovelha chegasse à idade estabelecida sem qualquer defeito como cegueira,
quebradura, aleijamento, verrugas, sarnas, impigens, etc. "O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula,
um macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras" ( Êx 12:5 ).
Diante da
necessidade e do volume de oferendas pela expiação, as ovelhas para o
sacrifício tinham que receber cuidados especiais para não faltar vítimas de um
ano e sem defeito. O cuidado do pastor era indispensável para que a ovelha
estivesse à altura da sua missão: posta como vítima da festa para expiação ( Nm
6:14 ).
Deus escolheu Cristo
como a vítima da festa a ser atada sobre o altar ( Sl 118:27 ),
concomitantemente, o Cordeiro de Deus recebeu um cuidado específico e efetivo
para cumprir a missão do Sumo Pastor, que colocou a alma de Cristo por expiação
dos pecados da humanidade ( Is 53:10 ).
O Salmo 23 apresenta o Cordeiro de Deus sob cuidado
do Sumo Pastor, pois Ele foi enviado como a vítima para o sacrifício perfeito (
Is 53:7 ). Muitos, equivocadamente, buscam e pedem a proteção exarada no Salmo
23, porém, não atinam que a proteção nele descrita tem em vista um cálice "Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis.
Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo
com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos" ( Mt 20:22 ).
O salmo 23 é uma
parábola, e como parábola contém várias figuras que compõe um enigma. Primeiro
desvendaremos as figuras que compõe o enigma e, ao final da releitura do Salmo
23, apresentaremos o significado da parábola.
“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará” (v. 1)
Temos neste verso
uma expressão de confiança: O Senhor é o meu pastor, e, em seguida, uma
conclusão: nada me faltará. Como poesia, há nesta frase do Salmo um paralelismo
sintético construtivo ou formal, em que a segunda parte da frase amplia ou
acrescenta nova ideia a asserção anterior.
Vale destacar
algumas nuances linguísticas pertinentes à segunda assertiva da frase ‘... nada
me faltará’. Segundo os linguistas que trabalham o hebraico, o verso 1 do
Salmo 23 pode ser traduzido por: “O Senhor é pastagem”, isto porque o termo
‘pastagem’ no hebraico assemelha-se ao possessivo ‘meu pastor’ por possuírem
radicais idênticos com sutil diferença quanto aos pequenos sufixos e
pontuações.
Para uma interpretação segura, vale lançar mão de
outro salmo. O Salmo 16, verso 2 e 5, assim reza: “A minha alma disse ao SENHOR: Tu és o meu Senhor. Não tenho outro bem além de ti (...) O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice” ( Sl 16:2 e 5; Sl 142:5 ). A ênfase dos
versos está em Deus, que é ‘bem’, ‘herança’ e ‘cálice’, figuras que não têm
conotação de bens materiais.
Neste diapasão, concordo com alguns linguistas que
entendem que o termo traduzido por ‘nada’ é uma adaptação linguística dos
tradutores, e quando sugerem ser mais conveniente traduzir o verso por: “O Senhor é o meu pastor, não faltará
a mim” (v. 1 ; Sl 23:4 ). Deste modo o verso enfatiza o cuidado
perene de Deus, e não o patrocínio de bens materiais ou status deste mundo.
“Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente
a águas tranquilas” (v. 2)
Após declarar que o
Senhor é pastor, o salmo 23 apresenta algumas figuras que representam o cuidado
provedor de Deus para o homem que se posiciona confiante diante de Deus, como
uma ovelha se sujeita ao cuidado de um pastor.
‘Pastos verdejantes’
e ‘águas tranquilas’ é tudo o que uma ovelha necessita, de modo que são figuras
para retratar o cuidado de Deus.
A nação de Israel foi preparada para trazer o
Cristo ao mundo, de modo que foi concedido a Israel a adoção de filhos, a
glória, as alianças, a lei, o culto e as promessas ( Rm 9:4 ; Dt 4:8 ). Um
retrato perfeito da missão dada a Israel vê-se na visão de João que consta no
livro de Apocalipse, capítulo 12, onde é narrado através de um parábola o
resumo da história do povo de Israel, demonstrando que uma mulher (Israel)
prestes a dar a luz um varão que irá reger as nações com vara de ferro (o Filho
do homem), é perseguida pelo dragão (Satanás) “E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com
vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono” ( Ap 12:1 -17 ).
Apesar da apostasia
dos lideres e do povo de Israel, ao outorgar a lei e o testemunho dos profetas,
Deus estabeleceu um pasto verdejante para o Cristo. A linhagem de Cristo
recebeu proteção especial, sendo necessário a inclusão de duas mulheres
gentílicas, Rute e Raabe, para que o Cristo viesse ao mundo. Por sua vez, a
nação de Israel quase é exterminada, mas Deus a protegeu ( Et 3:13 ; Sl 22:9
-10).
O apóstolo Paulo ensinou que Deus não tem cuidado
de bois, quando disse: "Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao
boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois?" ( 1Co 9:9 ), de modo que o Salmo 23 não faz
referencia a animais de rebanho, como bois e ovelhas, antes diz de um homem que
confia no cuidado que Deus dispensa a Ele.
A ênfase do Salmo 23
está no cuidado de Deus como Sumo Pastor, o homem que figura como ovelha é
parte coadjuvante!
‘Pastos verdejantes’ e ‘águas tranquilas’ são
figuras que rementem à vontade de Deus revelada na sua palavra, que é alimento,
água e vida "E
te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não
conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não
viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem" ( Dt 8:3 ).
Alimentar-se de maná (pão) não trouxe vida ao povo
de Israel, antes é o comer da palavra de Deus que dá vida ao homem "Este é o pão que desceu do céu; não é o
caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá
para sempre" ( Jo
6:58 ).
Apesar de Israel
abrigar a vinda do Messias ao mundo, estava como ovelha sem pastor, o que
contrasta com a condição do homem do salmo 23, que tem Deus como pastor em
função da sua total confiança na fidelidade de Deus.
O povo de Israel foi
levado cativo por falta de entendimento, ou seja, não gozaram do cuidado de
Deus, antes estavam famintos e sedentos. A falta de conhecimento de Deus
resulta em sede e fome, o que demonstra que ter o Senhor como pastor é o mesmo
que ser farto do conhecimento de Deus.
Estar em pastos verdejantes e com águas tranquilas
é estar pleno de entendimento "Portanto o meu povo será levado cativo, por falta de
entendimento; e os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de
sede" ( Is 5:13 ); "Eis que vêm dias, diz o
Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de
água, mas de ouvir as palavras do SENHOR"(
Am 8:11 ; Ez 34:1 -15).
Enquanto era dito às ovelhas desgarradas que
andavam sem pastor: "Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e
perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e
achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos
nele" ( Jr 6:16 ), a ovelha
sob cuidado do Senhor tinha a certeza de que a sua alma seria restaurada ( Sl
62:1 ).
A ovelha sob cuidado do Senhor de nada tem falta,
pois se alimenta da palavra de Deus, o que contrasta com a condição dos filhos
dos leões (lideres de Israel que devoravam o povo como se fosse pão) que
necessitam e passam fome "A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que
estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua
língua espada afiada" ( Sl 57:4
; Sl 34:10 ; Sl 53:4 ; Is 28:14 ).
Os lideres de Israel são nomeados ‘loucos’,
‘néscios’, ‘faltos de entendimento’ por rejeitarem a palavra de Deus, a comida
que livra da destruição “Os loucos, por causa da sua
transgressão, e por causa das suas iniquidades, são aflitos. A sua alma
aborreceu toda a comida, e chegaram até às portas da morte. Então clamaram ao
SENHOR na sua angústia, e ele os livrou das suas dificuldades. Enviou a sua
palavra, e os sarou; e os livrou da sua destruição” ( Sl 107:17 -20).
O corpo depende de alimento cotidiano, e a alma da
palavra de Deus, de sorte que quem ouve a palavra de Deus come o que é bom ( Is
55:2 ); “Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens
a alma faminta” ( Sl 107:9
).
No salmo 57 temos uma profecia acerca de Cristo
quando abrigado sob a sombra das asas do Pai ( Sl 57:1 ; Sl 91:1 ). O salmo
descreve que Deus envia a sua misericórdia e a sua verdade para livrar o
Messias daqueles que procuravam matá-lo ( Sl 57:3 -4); "Ó Deus, quebra-lhes os dentes nas suas bocas; arranca,
SENHOR, os queixais aos filhos dos leões" (
Sl 58:6 ; Sl 23:6 ).
Como Deus é
apresentado como pastor, e a ovelha uma figura que representa um homem sob o
cuidado de Deus, ‘pastagem’ e ‘águas tranquilas’ não diz de roupas, casas,
carros, casamentos, alimento, antes diz da justiça de Deus proveniente da Sua
palavra.
O pasto e as águas que Deus providencia tem por
alvo os que têm sede e fome de justiça, ou seja, de ouvir a palavra de Deus"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque
eles serão fartos" ( Mt 5:6
); "Eis que vêm dias, diz o
Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de
água, mas de ouvir as palavras do SENHOR" ( Am 8:11 );"Por
que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho
naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a
vossa alma se deleite com a gordura" (
Is 55:2 ).
O descanso e o refrigério só são possíveis quando
se dá ouvido à palavra de Deus, que é doutrina e conhecimento “Ao qual disse: Este é o descanso, dai
descanso ao cansado; e este é o refrigério; porém não quiseram ouvir” ( Is 28:12 ; Is 28:9 ).
Os mestres de Israel tropeçaram quando
interpretavam os profetas e a lei considerando-se filhos de Abraão por serem
descendentes da carne de Abraão. Não consideraram que só os crentes que detém a
mesma fé que crente Abraão são filhos de Abraão, pois a Abraão foi anunciado o
Cristo e ele creu. Quando Cristo veio esses mestres tropeçaram na pedra que
Deus estabeleceu e a mesa (doutrina) deles se tornou em laço, de modo que
perseguiram o aflito de Deus “Torne-se-lhes a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade
em armadilha. Escureçam-se-lhes os seus olhos, para que não vejam, e faze com
que os seus lombos tremam constantemente. Derrama sobre eles a tua indignação,
e prenda-os o ardor da tua ira. Fique desolado o seu palácio; e não haja quem
habite nas suas tendas. Pois perseguem àquele a quem feriste, e conversam sobre
a dor daqueles a quem chagaste. Acrescenta iniquidade à iniquidade deles, e não
entrem na tua justiça” ( Sl
69:22 -27 ; Is 28:8 ; Is 43:27 ).
É por isso que Jesus disse: "Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e
saduceus" ( Mt 16:6 ), pois
a mesa deles era um laço: "Então
compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da
doutrina dos fariseus" (
Mt 16:12 ).
Israel não se alimentou do pasto e das águas
tranquilas providenciadas por Deus, antes se assentavam em uma mesa plenas de
vômitos e imundícias, uma mesa que não continha o conhecimento de Deus “Porque todas as suas mesas
estão cheias de vômitos e imundícia, e não há lugar limpo” ( Is 28:8 ; Is 65:11 ).
Embora os filhos de Jacó fossem os guardiões da lei
e do testemunho dos profetas, eles não davam ouvidos à palavra de Deus“Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai
pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis
descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele" ( Jr 6:16 ).
“Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da
justiça, por amor do seu nome” (v.
3)
O verso 3
complementa a ideia do verso 2:
“Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas” (v. 2)
“Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome” (v. 3)
O alimento providenciado por Deus proporciona
descanso, refrigério e restaura a alma aflita, pois é Ele quem guia as águas
tranquilas, ou seja, pelas veredas da justiça "A lei do SENHOR é
perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é
fiel, e dá sabedoria aos símplices" ( Sl 19:7 ).
O cuidado do Senhor está atrelado ao zelo do Seu
nome, pois Ele é fiel “Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; assim, por amor
do teu nome, guia-me e encaminha-me” (
Sl 31:3 ).
As vicissitudes do
mundo fazem parte da existência do homem, quer seja salvo ou não ( Jo 16:33 ;
Ec 7:14 ), pois foi Deus quem estabeleceu como consequência da ofensa de Adão
que o homem se sustentaria (comerá) do suor do seu rosto até retornar ao pó (
Gn 3:19 ). É um erro pensar que os salmos possuem poderes místicos para livrar
o homem dos problemas diários.
“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte,
não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me
consolam” (v.
4)
A confiança da ‘ovelha’ no Sumo Pastor pode ser
dimensionada através da circunstância que o cerca: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria
mal algum...”. O motivo
de tamanha confiança vem expresso no Salmo 138:“Andando eu no meio da angústia, tu me reviverás; estenderás a tua
mão contra a ira dos meus inimigos, e a tua destra me salvará” ( Sl 138:7 ).
A penalidade
decorrente da ofensa de Adão impôs medo a todos os homens, mas a ‘ovelha’ em
comento não teme mal algum ao percorrer as ‘regiões da morte’, pela certeza de
que Deus, como Pastor, jamais faltará (v. 1; Hb 2:15 ). Deus é o Pastor da
‘ovelha’ porque ela não pertence ao pecado como os demais homens.
A ‘sombra da morte’ é uma figura para fazer
referencia ao mundo dos homens que jazem separados de Deus, ou seja, estão
mortos, alienados de Deus “Alguns
se assentam nas trevas e nas sombras da morte, presos de aflição e em ferro, por se haverem rebelado contra as
palavras de Deus, e desprezado o conselho do Altíssimo (...) Tirou-os das trevas e das sombras da morte e quebrou as suas cadeias” (
Sl 107:10 -11 e 14; Is 9:2 ).
Esta mesma figura é utilizada pelo profeta Isaias
quando faz referencia a Cristo como a luz dos povos “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz” (
Is 9:2 ).
A humanidade alienada de Deus habita na região da
sombra da morte e estão presos por causa da lei que diz: ‘certamente morreras’
( 1Co 15:56 ). Mas Cristo foi dado como luz dos que jazem em trevas, tirando-os
da prisão "Para
abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que
jazem em trevas" ( Is 42:7
); "Para dizeres aos presos:
Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei. Eles pastarão nos caminhos, e em
todos os lugares altos haverá o seu pasto" ( Is 49:9 ); "Venha perante a tua face o gemido dos presos; segundo a
grandeza do teu braço preserva aqueles que estão sentenciados à morte" ( Sl 79:11 ); "Para
ouvir o gemido dos presos, para soltar os sentenciados à morte" ( Sl 102:20 ).
‘Sombra’ é uma
figura que pode representar proteção, abrigo, ou o que é efêmero, passageiro,
ou uma imagem desfocada ( Gn 19:8 : Jz 9:15 ; Sl 17:8 ; Jó 8:9 ; Jó 14:2 ; Sl
102:11 ; Hb 10:1 ). O versículo 4 do Salmo 23 faz referencia à condição do
homem que está no mundo apenado com a morte em decorrência da ofensa de Adão.
Por causa da ofensa
de Adão toda a humanidade passou à condição de mortos para Deus, a retribuição
decorrente da ofensa ( Rm 5:15 ).
Deus é vida, e o
homem alienado de Deus está morto. Deus é luz, e o homem separado de Deus é
trevas. Como a humanidade está morta em delitos e pecados (jaz no maligno),
todos os homens residem à sombra da morte, visto estarem alienados de Deus.
Para resgatar a humanidade que estava em trevas,
Cristo foi introduzido no mundo, à sombra da morte, de modo que Ele é o Sol
nascente das alturas que brilhou sobre a humanidade “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” ( Jo 1:5 ) “Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” ( Lc 1:79 ).
Quando o homem crê em Cristo é arrancado do reino
da morte e transportado para o reino do Filho do amor de Deus ( Cl 1:13 ); “Então clamaram ao SENHOR na
sua angústia, e os livrou das suas dificuldades. Tirou-os das trevas e sombra
da morte; e quebrou as suas prisões. Louvem ao SENHOR pela sua bondade, e pelas
suas maravilhas para com os filhos dos homens. Pois quebrou as portas de
bronze, e despedaçou os ferrolhos de ferro” (
Sl 107:13 -16).
Mas a profecia é mais especifica: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte...” (v. 4). A sombra da morte refere-se à
humanidade alienada de Deus, o vale refere-se aos filhos de Jacó que não se
deixam alcançar pela luz.
O profeta Jeremias nomeia os filhos de Jacó como a
‘moradora do vale’, ‘pedra da campina’ “Eis que eu sou contra ti, ó moradora do vale,
ó rocha da campina, diz o SENHOR; contra vós que dizeis: Quem descerá contra
nós? Ou quem entrará nas nossas moradas?” (
Jr 21:13 ); "Por isso farei de Samaria
um montão de pedras do campo, uma terra de plantar vinhas, e farei rolar as
suas pedras no vale, e descobrirei os seus fundamentos" ( Mq 1:6 ).
Quando João Batista passou a clamar no deserto da
Judéia dizendo: - “Arrependei-vos”, buscava cumprir a sua missão: aplainar o
caminho do Senhor. Era imprescindível uma mudança de concepção acerca de como
ser salvos, abandonando as veredas não aplainadas por Deus ( Is 40:2 -3 ; Is Lc
1:76 ; "Contudo
o meu povo se tem esquecido de mim, queimando incenso à vaidade, que os fez
tropeçar nos seus caminhos, e nas veredas antigas, para que andassem por
veredas afastadas, não aplainadas" (
Jr 18:15 ).
O ‘vale’ diz dos filhos de Jacó que se opuseram a
Cristo, conforme descrevem os Salmos 69, 22, 64, etc. Por que o Cordeiro de
Deus não haveria de temer quando no vale entre os leões? "A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que
estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua
língua espada afiada" (
Sl 57:4 ). Porque estaria abrigado à sombra das asas de Deus ( Sl 57:1 ; Sl
91:1 ).
Enquanto os que habitavam nas regiões da sombra da
morte viram uma grande luz, os que estavam no vale da sombra da morte se
opuseram à luz verdadeira, tornando-se opositores da luz "Ali estava a luz
verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo" ( Jo 1:9 ; Jo 10:36 ).
Fazer a vontade de Deus é ser guiado em terra
aplainada, o caminho preparado por Deus "Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e
perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e
achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos
nele" ( Jr 6:16 ). Cristo
foi guiado por terra plana “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus. O teu
Espírito é bom; guie-me por terra plana” (
Sl 143:10 ).
“Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus
inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda” (v. 5).
Do verso 4 para o
verso 5 ocorre uma transição de cenário, onde havia pasto e águas, agora há uma
mesa posta.
Enquanto os versos 1
a 4 enfatizam o cuidado do Senhor e a confiança do Servo, nos versos que se
seguem, a ênfase está missão do Servo.
Os versos de 1 a 4
destacam que o Servo do Senhor estava sob o cuidado de Deus em virtude da
missão que lhe foi confiada. Já os versos 5 a 6 destacam a finalidade do
cuidado dispensado ao homem que se posiciona como ovelha.
O cenário do campo e
das águas tranquilas é desfeito abruptamente e se volta para uma mesa posta em
um ambiente de hostilidade. A parábola do Salmo 23 e as suas figuras ganham
novo contorno: o cuidado de Deus tem em vista preservar a vítima da festa.
O quadro bucólico
dos versos 1 a 4 (ovelha, campo, água) é substituído no verso 5 por uma ‘mesa
preparada’ que representa tanto a vontade do Sumo Pastor quanto a satisfação do
Servo eleito em realizar a vontade do seu Senhor. Através da mesa preparada
demonstra-se o prazer do Servo do Senhor em atender a vontade de Deus.
O Servo do Senhor destaca que Deus (o Sumo Pastor)
preparou uma mesa em uma ocasião nada favorável: na presença dos seus inimigos.
Há uma mesa preparada, mas qual é o seu significado? “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos...” (v. 5).
A figura da ‘mesa
preparada’ tem a conotação de proporcionar prazer a alguém. Como o prazer do
Servo fiel é fazer a vontade de seu Senhor, a mesa preparada representa a
vontade de Deus. A mesa posta na presença dos inimigos não guarda relação com o
sustento cotidiano, antes reúne em uma mesma figura a vontade expressa de Deus
e o prazer do seu Servo.
Quando lemos a declaração de Jesus, que diz: “... convinha que se cumprisse
tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos” ( Lc 24:44 ), e que a ‘comida’ de Cristo era
fazer a vontade de Deus Pai, é possível saber o que foi posto sobre a mesa “Jesus disse-lhes: A
minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e
realizar a sua obra" (
Jo 4:34 ).
O testemunho do Salmo 23 não diz do salmista Davi,
ou de qualquer outra pessoa. O Salmo 23 é um testemunho específico acerca do
Cristo, que se apresentou para fazer a vontade de Deus “Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está
escrito. Deleito-me em fazer a tua
vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” ( Sl 40:7 -8; Hb 10:9 ).
Tudo o que está escrito no rolo das Escrituras
testificam de Cristo, pois Ele teve prazer em fazer a vontade de Deus. O
deleite, o alimento de Cristo, era fazer o prescrito por Deus, pois a lei de
Deus é refrigério "A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma" ( Sl 19:7 ; Sl 23:2 ).
Para identificarmos que tipo de alimento foi
servido à mesa que o Senhor preparou para o Messias não podemos ter a mesma
visão dos discípulos quando pediram ao Senhor Jesus que comesse: “E entretanto os seus discípulos lhe rogaram,
dizendo: Rabi, come. Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho
para comer, que vós não conheceis. Então os discípulos diziam
uns aos outros: Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer?” ( Jo 4:31 -33).
É necessário ver além! A comida de Cristo que os
discípulos não conheciam refere-se a realizar a vontade de Deus. Quando lemos: "Eu não posso de mim mesmo
fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai
que me enviou" (
Jo 5:30 ); "Porque
eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me
enviou" ( Jo 6:38 ),
percebe-se que a vida de Cristo era realizar a vontade Deus “Não cuideis que vim destruir a lei ou os
profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir” (
Mt 5:17 ), vemos que a vida do Messias foi alimentar-se à mesa de Deus.
Como Cristo veio ao mundo para cumprir a vontade do
Pai, a lei, os salmos e os profetas era o alimento colocado à mesa. As
escrituras é a mesa preparada que, para o Cristo teve peso de glória porque fez
a vontade do Pai, enquanto para os filhos de Jacó a mesma mesa tornou-se ‘laço’
e ‘tropeço’ “Torne-se-lhes
a sua mesa diante deles em laço, e a prosperidade em armadilha”( Sl 69:22 ). A mesa de Deus que estava diante dos filhos
de Jacó diz da mesa mesa preparada perante o Cristo"Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos..." (
Sl 23:5 ).
Enquanto a descrição da vida e ministério de Cristo
nas Escrituras, ou o cumprimento das Escrituras na vida e no ministério de
Cristo era a mesa preparada perante os opressores de Cristo, o cálice diz das
agruras da cruz. Quando Jesus estava no Getsemani, começou a entristecer-se e a
angustiar-se, foi quando Jesus por três vezes fez a seguinte oração ao Pai,
dizendo: “E,
indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim
sem eu o beber, faça-se a tua vontade" (
Mt 26:42 ); “A
minha alma está cheia de tristeza até a morte” (
Mt 26:38 ).
O Messias saiu do Getsemani resoluto e certo de uma
coisa: “Dormi
agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue
nas mãos dos pecadores” ( Mt
26:45 ). Ele tinha plena certeza do que Deus havia reservado "Agora a minha alma está
perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta
hora" ( Jo 12:27 ).
Quando Cristo se entregou aos homens segundo a
vontade do Pai, ali estava fazendo a vontade de Deus na presença dos seus
inimigos. Enquanto os homens contemplavam o Cristo ser crucificado, na verdade,
Cristo estava à mesa, realizando (comendo) a vontade do Pai. Além de fazer a
vontade de Deus, ao final da ‘refeição’, Jesus bebeu o cálice que Deus lhe deu "Jesus disse-lhes: A minha
comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra" ( Jo 4:34 ).
Enquanto os inimigos injuriavam e se arremetiam
contra o Ungido do Senhor, Cristo estava bebendo o cálice dado por Deus, pois
era do agrado de Deus enfermá-Lo e moê-Lo "Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não
beberei eu o cálice que o Pai me deu?" (
Jo 18:11 ); "Ninguém
ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para
tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai" ( Jo 10:18 ); "Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar;
quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade,
prolongará os seus dias; e o bom prazer do SENHOR prosperará na sua mão" ( Is 53:10 ).
Cristo sabia que, após comer à mesa posta pelo Pai
(fazendo a vontade de Deus), e, bebendo o cálice (sujeitando-se à ignomínia da
cruz), receberia a recompensa "Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo
gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e
assentou-se à destra do trono de Deus" (
Hb 12:2 ).
Na cruz o Filho estava pagando o seu voto diante
dos filhos do seu povo ( Sl 116:14 e 18). Dele estava escrito: “Eis aqui venho (...)
Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu” (
Sl 40:7 -8). É por isso que Jesus declarava abertamente: "Porque eu desci do céu,
não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" ( Jo 6:38 ).
“Certamente que a bondade e a misericórdia me
seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do SENHOR por longos
dias” (v. 6)
Apesar de saber que
Deus haveria de lhe dar um cálice a beber, a confiança do Cristo em Deus é
imutável, pois confessa: a bondade e a misericórdia certamente me seguirão, por
fim, após ser participante da mesa e do cálice tinha plena confiança que
habitará eternamente junto ao Pai.
A certeza de que a bondade e a misericórdia de Deus
e abundancia de dias decorre da obediência de Cristo "E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os
meus mandamentos" ( Dt 5:10
). Deus havia estabelecido que teria misericórdia dos que O obedecem, e como a
comida, o prazer de Cristo era executar a vontade de Deus, a bondade e a
misericórdia de Deus era certa, de modo que Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos ( Sl 56:13 ; Is 53:12 ; Pv 14:32 ; Sl 30:3 ; Sl 49:15 ; Sl 88:3 ).
O Servo do Senhor é cordeiro morto desde a fundação
do mundo
Como homem, Jesus
confiou inteiramente no Pai, de modo que nesta previsão escrita por Davi ( At
2:30 ; At 4:25 ), temos o Verbo encarnado expressando a sua confiança em Deus
assim como uma ovelha entrega-se ao cuidado do Pastor.
O salmo apresenta uma figura própria ao servo do
Senhor: o cordeiro de Deus "Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como
um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus
tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca" ( Is 53:7 ). Neste salmo as figuras ‘servo’
e ‘cordeiro’ fundem-se "Quem é cego, senão o meu servo, ou surdo como o meu
mensageiro, a quem envio? E quem é cego como o que é perfeito, e cego como o
servo do SENHOR?" ( Is
42:19 ); “Mas
eu, como surdo, não ouvia, e era como mudo, que não abre a boca. Assim eu sou
como homem que não ouve, e em cuja boca não há reprovação” ( Sl 38:13 -14).
Na condição de ovelha o Cristo teve o Pai como
pastor. O que isto significa? Que o descendente prometido a Davi assumiria a
condição de servo ( Is 42:1 ; Is 49:5 ), e que os servos não fazem a sua
própria vontade, antes esperam inteiramente em seu senhor "Assim como os olhos dos servos atentam para as mãos dos seus
senhores, e os olhos da serva para as mãos de sua senhora, assim os nossos
olhos atentam para o SENHOR nosso Deus, até que tenha piedade de nós" ( Sl 123:2 ).
No Salmo 23 a relação ‘Senhor’ e ‘servo’, ‘Pai’ e
‘Filho’ é apresentada através de uma nova figura: ‘pastor’ e ‘ovelha’.
Lembremos que Deus veio em carne e habitou entre os homens "E o Verbo se fez carne, e
habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade" (
Jo 1:14 ). Ao assumir um corpo à semelhança da carne do pecado ( Rm 8:3 ; HB
10:5 ), Cristo se sujeitou às mesmas paixões que os homens ( Lc 22:28 ; Hb 4:15
; Hb 2:17 ).
Para cumprir a missão dada pelo Pai, o Verbo que
habitava o esconderijo do Altíssimo foi introduzido no mundo e, quando no mundo
dos homens (região da sombra da morte) esteve abrigado sob as asas do
Onipotente porque em tudo foi obediente“AQUELE que habita no
esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará” ( Sl 91:1 ; Is 9:2 ).
A promessa do Pai ao
Filho enquanto na região da sombra da morte era de que o Cristo não seria deixado
na morte e que nem um dos seus ossos seria quebrado ( Sl 16:10 ; Sl 49:9 ; Sl
34:20 ). As promessas de Deus são firmes, pois Ele zela do Seu nome ( Sl 138:2
).
É em função do
cordeiro que seria morto na plenitude dos tempos, mas que foi morto desde a fundação
do mundo, que destacamos que o Salmo 23 não foi escrito na perspectiva de um
rebanho de ovelhas, antes foi redigido na perspectiva de uma ovelha que
necessitava de proteção para ser oferecida como vitima segundo a vontade de
Deus.
Cristo – O Bom Pastor
O salmo 23 foi analisado na perspectiva da Ovelha
escolhida por Deus para beber o cálice da ignomínia – Cristo - o Servo do
Senhor ( Jo 8:15 ; Jo 12:47 ) “PORQUE brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes
um renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o espírito
de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o
espírito de conhecimento e de temor do SENHOR. E deleitar-se-á no temor do
SENHOR; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o
ouvir dos seus ouvidos. Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com
equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o
sopro dos seus lábios matará ao ímpio, E a justiça será o cinto dos seus lombos,
e a fidelidade o cinto dos seus rins” (
Is 11:1 -5; Is 4:2 ).
Cristo, o rebento do
tronco de Jessé prometido por Deus é fonte de água que jorra para a vida eterna
( Jo 4:14 ). Ele é o pão vivo que desceu dos céus ( Jo 6:51 ). Quem crê em
Cristo, o Verbo que se fez carne, passa a viver especificamente da palavra que
sai da boca de Deus ( Jo 6:58 ).
O tronco de Jessé é
Deus feito homem habitando com os homens (Deus conosco), e neste quesito, Ele é
o Bom Pastor que deu a sua vida pelas ovelhas ( Jo 10:11 e 14; Is 9:6 ). Para
as ovelhas, os verdes pastos e a água perene são os ensinos de Cristo ( Ef 1:3
; 1Co 1:5 ; 2Pe 1:3 ; Mt 28:20 ).
Jesus é o Bom Pastor e por isso disse aos seus
discípulos: "NÃO
se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim" ( Jo 14:1 ); "Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da
luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles" ( Jo 12:36 ); "Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não
honra o Filho, não honra o Pai que o enviou" ( Jo 5:23 ).
No Salmo 110, Davi
‘em espírito’ chamou o Filho de Deus de ‘meu Senhor’, já no Salmo 23, em
espírito temos o Filho de Deus, na condição de Cordeiro escolhido, chamando o
Pai de pastor.
“O SENHOR é o meu pastor, nada me
faltará” ( Sl 23:1 );
“DISSE o SENHOR ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos
teus pés” ( Sl 110:1 ).
Mas, na plenitude dos tempos, o Senhor Jesus Cristo
anunciou ser o Bom Pastor: "Eu sou o bom Pastor... " (
Jo 10:11 e Jo 10:14 ; Ef 1:10 ; Gl 4:4 ). Por quê? Porque o Jesus de Nazaré,
que foi reputado por aflito de Deus, antes de ser introduzido no mundo, era o
Verbo eterno que estava com Deus. Devemos enxergar o rebento de Jessé de dois
modos: a) em ignomínia; b) glorioso.
Da mesma forma que
os homens ficaram pasmos diante do Cristo crucificado, hão de ficar pasmos
diante da sua glória ( Is 52:13 -15). Num primeiro momento o renovo justo não
tinha parecer e nem formosura ( Is 53:2 ), em um tempo vindouro se apresentará
cheio de beleza ( Is 4:2 ).
Por que Jesus utilizou o predicativo ‘bom’ ao
identificar-se como Pastor? Porque Ele é o Verbo de Deus encarnado ( Jo 1:14 ),
o Deus Altíssimo ( Is 57:15 ), o Senhor entronizado conforme prediz o Salmo 45: “O Teu trono, ó Deus, é eterno
e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a retidão e
odeias a impiedade; portanto Deus, o teu Deus te ungiu com o óleo de alegria,
mais do que a teus companheiros” (
Sl 45:6 -7).
Compare:
“DISSE o SENHOR ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos
teus pés” ( Sl 110:1 ).
“O Teu trono, ó Deus, é eterno e
perpétuo (...); portanto Deus, o teu Deus te ungiu com o óleo de alegria, mais
do que a teus companheiros” ( Sl 45:6 -7).
No salmo 45 Jesus é apresentado pelo salmista no
reino da sua glória, o Senhor Deus que reina com justiça e equidade, do mesmo
modo que foi apresentado no salmo 110 em igualdade com o Pai. O escritor aos
Hebreus destaca este fato: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos
dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino” ( Hb 1:8 ).
Sem sombras de dúvidas Jesus Cristo é o Bom Pastor,
visto que, Ele e o Pai são um: "Eu e o Pai somos um" (
Jo 10:30 ).
A relação ‘Pai’ e ‘Filho’ não existia na
eternidade, pois as pessoas da divindade na eternidade são co-iguais e
co-eternas. Somente quando o Verbo foi introduzido no mundo, passou a ter
eficácia o acordo estabelecido na eternidade, como se lê:"Porque, a qual dos anjos
disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por
Pai, e ele me será por Filho?" (
Hb 1:5 ).
Na eternidade não havia a relação Pai e Filho, mas
ao ser introduzido o Unigênito no mundo, ficou estabelecido: ‘Eu lhe serei por pai, e tu me será por Filho’. O termo ‘hoje’ utilizado em algumas profecias
refere-se a eventos pertinentes ao mundo dos homens.
Os que recebem a Cristo estão sob a proteção do Bom
Pastor, de modo que em tudo os que creem em Cristo têm toda suficiência, ou
seja, de '... nada têm falta'! "Temei ao SENHOR, vós, os seus santos, pois nada falta aos
que o temem" ( Sl 34:9 ;
2Co 9:8 ).
Há os que pensam que
a promessa de que ‘nada faltará’ àqueles que têm a Cristo como Senhor lhes
proporcionará farturas de bens materiais aqui neste mundo, porém, estão
equivocados em suas mentes carnais. O apóstolo Paulo explica que Deus é
poderoso para fazer abundar toda graça com o objetivo de que os cristãos tenham
sempre, em tudo, toda suficiência.
Os cristãos terão
fartura (abundeis) em toda boa obra, e não em riquezas materiais. Com relação
aos bens materiais, será agraciado com suficiência em tudo. Mesmo no pouco, o
cristão possui suficiência, contentamento ( 1Tm 6:6 ).
Aquele que tem Cristo como Pastor (meu), é ovelha
do seu aprisco "As
minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem" ( Jo 10:27 ). Entram no aprisco do Senhor e
encontraram paz e descanso para a suas almas ( Mt 11:29 ), porém, as aflições
deste mundo persistem ( Jo 16:33 ).
Jesus anunciou ser:
o A
Porta – ‘Eu sou a porta’ ( Jo 10:9 ) – Ou seja, Cristo é a porta das ovelhas,
pela qual os homens que ouvirem a sua voz necessitam entrar para serem salvos (
Mt 7:13 );
o O
Bom Pastor ( Sl 10:11 ) - ‘Eu sou o bom Pastor’ ( Jo 10:11 ) – Aquele que dá a
sua vida em prol das ovelhas.
Aqueles que entram por Cristo, a porta estreita,
são comparados a ovelhas, visto que o Pastor é quem guia pelas veredas eternas.
Ora, qualquer que entra pela porta estreita que é Cristo, está num caminho
estreito que o conduz a vida eterna “Mas estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz para a
vida...” ( Mt 7:14 ), e encontra
descanso para a alma ( Mt 11:29 ; Sl 118:20 ).
A figura do ‘caminho
apertado’ quanto a o ‘Bom Pastor’ é Cristo, visto que:
o ‘o
caminho apertado’ conduz o homem a Vida, e;
o O
Bom Pastor conduz ‘as ovelhas’ as águas tranquilas.
Qualquer que crê em Cristo de nada tem falta e
alcança o descanso prometido. Aquele que confia em Cristo encontra descanso,
conforme o escritor aos Hebreus escreveu: “Ora, nós que temos crido, entramos no descanso...” ( Hb 4:3 ). Após crer no Bom Pastor, que é
Cristo Jesus, as suas 'ovelhas' descansam, pois é Ele quem guia as 'ovelhas' em
segurança à vida eterna "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso
e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas" ( Mt 11:29 ).
A confiança em
Cristo como pastor proporciona aos seus seguidores descanso, segurança e
refrigério. Tal condição é descrita pelo apóstolo Paulo como ‘estar assentado’
em Cristo Jesus nas regiões celestiais ( Ef 1:3 ).
Jesus, o Bom Pastor, é o caminho de Justiça que
conduz os homens a Deus "Disse-lhe Jesus: Eu sou o
caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" ( Jo 14:6 ). Somente trilham o novo e vivo
caminho aqueles que são nascidos da água (palavra) e do Espírito (Deus) ( Hb
10:20 ).
Todos quantos tem o Senhor Jesus como Pastor são
crucificados, morrem e são sepultados com Cristo "Porque
este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será nosso guia até à morte" ( Sl 48:14 ; Rm 6:6 ), porém, ressurgem
vitoriosos em Cristo, sendo criados de novo em verdadeira justiça e santidade (
Cl 3:1 ).
As palavras do
Pastor, a verdade do evangelho, desempenham a função da vara e do cajado: guia,
correção e consolo ( Jo 10:4 ; Jo 5:24 ). É o Senhor quem peleja em favor
daqueles que creem no bom Pastor ( Ex 14:14 ). Quantos inimigos o Senhor Jesus
derrotou na sua morte? O mundo, a carne, o pecado, satanás e as potestades, de
modo que, os seus seguidores são mais que vendedores!
Por desconhecer que os salmos são profecias em
forma de cânticos e poesias, e que tais profecias têm por tema o Cristo e a sua
obra, muitos buscam proteção nas promessas contidas nos salmos. Se as pessoas
buscassem nos salmos o conhecimento do Santo, encontrariam proteção e descanso
para a alma, pois encontrariam a salvação de Deus em Cristo “E DAVI, juntamente com os
capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã,
e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e
este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério” ( 1Cr 25:1 ).
Se os leitores dos
salmos compreenderem que as promessas dos salmos dizem do Messias, e que por
Ele ser o ungido do Senhor, que Deus reservou para o Cristo um cálice a beber,
não teriam uma visão superficial dos salmos.
Na sua maioria, os leitores dos salmos querem ‘se
assentar à direita e a esquerda do Cristo em seu reino’, porém, desconhecem,
como os filhos de Zebedeu, que o cálice que Cristo ia beber era derramar a sua
alma na morte "Jesus,
porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice
que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?
Dizem-lhe eles: Podemos" ( Mt 20:22
).
Para alcançar as promessas de Deus é essencial que
o homem beba o cálice dado pelo Pai: crer em Cristo. Quando o homem crê em
Cristo, significa que pegou a sua própria cruz e seguiu após Cristo até o
calvário, foi morto, sepultado e ressurgiu segundo o poder de Deus. Aquele que
crê que Cristo, o Jesus de Nazaré, é o Bom Pastor, bebeu o cálice de Cristo “E diz-lhes ele: Na verdade
bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado,
mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo,
mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado” ( Mt 20:23 ).
Pense
nisso!
Do
seu Pastor: Samuel José dos Santos Filho
A
graça do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
E
o amor de Deus,
E
as doces comunhão e consolações do Espírito Santo,
Sejam
com todos vós,
E
com todo povo de Deus espalhados sobre a face da terra,
Desde
agora e para todo Sempre,
Amém.
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