Manancial - Morangos
Domingo 27 de
outubro de 2013
Morangos
Os morangos bravos ainda não estão maduros. É cedo. Quem vai apanhar
morangos em meados de Junho?
Mas ontem, no pátio, Vilius gabou-se:
— Amanhã vamos aos morangos. Na Grabchto (língua de areia na costa) há
muitos! Hoje, enchemos a barriga. Deveríamos era ter levado um balde.
Na mão segurava um frasco com o fundo mal coberto de bagas rosadas.
Meteu-o debaixo do nariz de Romas e, depois, até deixou escorregar para
a mão dele alguns morangos.
— Prova. Os vermelhos já os comi.
Romas cheirou-os, disse «obrigado» e pediu timidamente:
— Posso ir convosco?
— Depois logo se vê — respondeu Vilius, em tom trocista.
Em vez de comer os morangos, Romas ofereceu-os a Danute, que estava
doente há dois dias. Tinha tosse. A mãe não a deixava andar na rua. E sem ela
Romas aborrecia-se. Era uma boa amiga. Nada que se assemelhasse à Ruta.
Depois de provar os morangos, Danute disse:
— Que doces! Bem gostaria de comer mais!
— Agora não tenho mais, mas amanhã trago-te muitos. Vou apanhá-los com a
rapaziada — prometeu Romas.
Isto foi ontem. Hoje… Romas encontrou Ignas e perguntou-lhe quando iam
aos morangos. Este fugiu à resposta:
— Que morangos?!
— Vilius disse que iam hoje…
— Vilius lá sabe o que diz. Deixa-me em paz!
— Mas eu prometi a Danute…
— E que tenho eu a ver com isso? Se prometeste, vai!
Ignas voltou-lhe as costas, enfiou as mãos nos bolsos e, bamboleando-se,
atravessou o pátio. Chegado à cancela, virou-se para trás e gritou:
— Ó fedelho, não apanhes os morangos todos. Deixa alguns para a gente! —
e soltou uma gargalhada.
Romas ficou a pensar no que devia fazer, mas não resolveu nada. «Sou um
mentiroso! A garota está doente e eu falto à minha palavra!… Não tenho vergonha
na cara!»
Em casa, depois de recuperar a calma e matar a sede, Romas decidiu-se a
agir. Iria sozinho, pois sabia o caminho. Portanto, bem podia colher e trazer
os morangos.
Se bem o disse, melhor o fez. Pegou no cesto e caminhou rapidamente ao
longo da praia. Como os pés se lhe enterravam na areia seca, pôs-se a andar
junto à água, onde a areia era mais dura. E tinha que andar muito…
Romas não sabia ainda que o gabarola do Vilius o enganara. O que os
rapazes tinham encontrado era apenas um punhado de bagas meio maduras. E não na
Grabchto, mas perto do velho aeródromo, no lugar soalheiro…
O Sol que acabava de sair de trás de uma nuvem começou a aquecer. O
vento tépido encrespava ligeiramente a água do mar. Mas Romas caminhava sem se
virar. Cansado, entrou até aos joelhos na água, molhou a cara, tomou fôlego e,
sem parar mais, chegou à Grabchto.
Nesta língua de areia encravada no mar crescem amieiros e bétulas e as
suas clareiras estão sempre cheias de morangos.
Depois de ter atravessado um amial, Romas espantou uma lebre que parecia
estar a dormir. O bicho levantou-se de um salto e desatou a correr em
ziguezagues ao longo da orla, deixando ver apenas a ponta branca do rabo.
— Não tenhas medo, lebre! — gritou-lhe Romas. — Eu só quero apanhar
morangos!
A lebre, porém, não se deteve, ou porque não o ouviu ou porque, de tão
assustada, nada compreendeu.
Na clareira por detrás do amial os morangos ainda não estavam maduros.
Alguns estavam rosados só do lado do sol. O resto das bagas estava ainda duro e
não tinha sabor. Estas eram tantas, mas todas verdes.
O que havia de fazer? Não podia voltar para casa de mãos a abanar!
Entrou numa mata de bétulas e chegou a uma outra clareira. Uma cotovia cantava
nas alturas. Romas levantou a cabeça para a escutar, mas quando olhou em frente
o coração estremeceu-lhe de alegria: a clareira estava toda coberta de morangos
maduros! E um forte e delicioso aroma pairava no ar. Romas colheu uma mão-cheia
deles e levou-os à boca. Que doces! É de comer e chorar por mais! «Não,
primeiro vou encher o cesto para Danute» — disse para si mesmo.
Ajoelhou-se e foi assim, de rastos, que explorou a clareira… Quando
encheu o cesto, cobriu os morangos com folhas para mantê-los frescos. Foi só
então que se lembrou de si próprio: comeu até não ser capaz de levar mais um
morango à boca. Estava farto.
Depois de descansar um pouco e lavar de novo a cara e as mãos, que os
morangos tinham tornado pegajosas, dirigiu-se para casa.
Chegou a casa já o Sol ia baixo. A mãe estava inquieta e zangada.
Para tranquilizá-la, o avô disse:
— Não te disse que nada aconteceria ao nosso Romas? Ele sabe o que faz.
E quem sabe o que faz nunca se perde! Então, o que trazes aí?
— Morangos.
— Não pode ser! É ainda cedo.
— Sim, mas os da Grabchto já estão maduros!
— Deixa ver. Que lindos!
— São para Danute!
— Ora vejam! Prometeste-os a Danute? Vai lá alegrar a tua amiga.
— Mas não demores muito! — acrescentou a mãe.
— Vou num pé e venho noutro! — E virando-se para a mãe, disse:
— Tenho tanta fome!
Danute, abraçada ao cesto, disse:
— Assim que comer isto, fico boa!
Entretanto, Ignas espreitou pela janela.
— É verdade que o Romas…? — Não acabou a frase, pois viu Danute tirando
morangos do cesto.
No dia seguinte, Romas procurou em vão os rapazes mais velhos. Queria
convidá-los para irem aos morangos na Grabchto, mas eles haviam desaparecido ao
despontar do Sol. Ninguém sabia onde se tinham metido. Voltaram à tarde.
Estavam cansados, bisonhos, furiosos. Vilius ordenou a Ruta:
— Chama o Romas!
Mal Romas apareceu no pátio, Vilius atacou-o:
— Porque mentiste? Não há morangos maduros na Grabchto.
— Disse a verdade — ofendeu-se Romas. — Talvez não tivessem procurado no
sítio certo.
— Percorremos a Grabchto de ponta a ponta…
— Mas eu encontrei!
Vilius piscou o olho e resmungou:
— Não sei onde os encontraste, mas o certo é que não foi na Grabchto!
Não me esquecerei desta tua mentira. Percebeste?
Teria mesmo mentido? Apenas encontrara uma clareira batida pelo sol…
Pense nisso!
Do seu Pastor: Samuel José dos
Santos Filho
A graça do Nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo,
E o amor de Deus,
E as doces comunhão e consolações do
Espírito Santo,
Sejam com todos vós,
E com todo povo de Deus espalhados
sobre a face da terra,
Desde agora e para todo Sempre,
Amém.
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