Estudo Bíblico - Deus em três Pessoas: A Trindade
Domingo 14 de Julho de 2013
Deus
em três Pessoas: A Trindade
Como Deus pode ser três pessoas, porém um só Deus?
Podemos definir a doutrina da Trindade do seguinte
modo: Deus existe eternamente como três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo
- e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus.
A. A DOUTRINA DA TRINDADE REVELA-SE PROGRESSIVAMENTE NAS
ESCRITURAS.
1. A revelação
parcial no Antigo Testamento.
A palavra Trindade não se encontra na Bíblia,
embora a idéia representada pela palavra seja ensinada em muitos trechos.
Trindade significa "tri-unidade" ou "três-em-unidade". É
usada para resumir o ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um
só Deus.
Às vezes se pensa que a doutrina da Trindade se
encontra somente no Novo Testamento, e não no Antigo. Se Deus existe
eternamente como três pessoas, seria surpreendente não encontrar indicações
disso no Antigo testamento. Embora a doutrina da Trindade não se ache explicitamente
no Antigo Testamento, várias passagens dão a entender ou até implicam que Deus
existe como mais de uma pessoa.
Por exemplo, segundo Gn 01:26, Deus disse: "Façamos o homens à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança". O que significa o verbo ("façamos") e o
pronome ("nossa"), ambos na primeira pessoa do plural? Alguns já
afirmaram tratar-se de plurais majestáticos, forma de falar que um rei usaria
ao dizer, por exemplo: "Temos o prazer de atender-lhe o pedido". Porém,
no Antigo Testamento hebraico, não se encontram outros exemplos em que um
monarca use verbos no plural ou pronomes plurais para referir-se a si mesmo
nessa forma de "plural majestático"; portanto, essa sugestão não tem
evidências que a sustentem. Outra sugestão é que Deus esteja aqui falando com
anjos. Mas os anjos não participaram da criação do homem, nem foi o homem
criado à imagem e semelhança de anjos; por isso a sugestão não é convincente. A
melhor explicação é que já nos primeiros capítulos de Gênesis temos uma
indicação da pluralidade de pessoas no próprio Deus. Não sabemos quantas são as
pessoas, e nada temos que se aproxime de uma doutrina completa da
Trindade, mas implica-se que há mais de uma pessoa. O mesmo se pode dizer de Gn
03:22 ("Eis que o homem se tornou como um de nós,
conhecedor do bem e do mal"), Gn 11:07 ("Vinde,
desçamos e confundamos ali a sua linguagem") e Is 06:08 ("A quem enviarei, e quem há de ir por nós?").
(Repare a combinação de singular e plural na mesma oração na última passagem.)
Além disso, em determinadas passagens uma pessoa é
chamada "Deus" ou "Senhor" e distinguida de outra pessoa
também chamada de Deus. Em Salmo 45.6-7(NIV), diz o salmista: "O teu
trono, ó Deus, perdurará para todo o sempre. [...] Tua amas a justiça e odeia a
iniqüidade; portanto, Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus
companheiros ungindo-te com o óleo da alegria". Aqui o salmo vai além de
descrever algo que poderia valer para um rei terreno, e chama o rei de
"Deus" (v. 6), cujo trono perdurara "para todo o sempre".
Mas então, ainda falando da pessoa chama "Deus", o autor diz que
Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros" (v. 7).
Então duas pessoas distintas são denominadas "Deus" (heb. 'Elõhîm).
No Novo Testamento, o autor de Hebreus cita essa passagem e a aplica a Cristo:
"O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (Hb 1.8)
Do mesmo modo, em Salmo 110.1, fala Davi:
"DIsse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que
ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés". Jesus corretamente entende
que Davi se refere a duas pessoas distintas como "Senhor" (Mt
22.41-46), mas quem é o "Senhor" de Davi senão o próprio Deus? E quem
poderia dizer a Deus "Assenta-te à minha direita", exceto alguém que
também seja plenamente Deus? Do ponto de vista do Novo Testamento, podemos
parafrasear assim esse versículo: "Deus Pai disse a Deus
Filho:"Assenta-te à minha direita". Mas mesmo sem o ensinamento do
Novo Testamento sobre a Trindade, parece claro que Davi estava ciente de um
pluralidade de pessoas num só Deus. Jesus, é claro, compreendo a isso, mas
quando pediu aos fariseus uma explicação dessa passagem, "E ninguém podia
responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém
interrogá-lo."(Mt 22.46). A menos que se disponham a admitir a pluralidade
de pessoas num só Deus, os intérpretes judeus das Escrituras, mesmo hoje, não
terão explicação mais satisfatória de Salmo 110.1 ( ou Gn 1.26, ou das outras
passagens analisadas há pouco) do que aquela que circulava no tempo de Jesus.
Isaías 63.10 diz sobre o povo de Deus que
"eles foram rebeldes e contestaram o seu Espírito Santo", dando a
entender, aparentemente, tanto que o Espírito Santo é distinto do próprio Deus
(é "seu Espírito Santo") quanto que esse Espírito Santo pode-se
"contristar", entristecer-se, aventando assim capacidade emocionais
características de uma pessoa distinta. (Is 61.1 também distingue "O
Espírito do SENHOR Deus" do "SENHOR", ainda que não se atribuam
qualidade pessoais ao Espírito Senhor nesse versículo.
Evidências semelhantes encontram-se em Malaquias,
em que diz o Senhor: "Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o
caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós
buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o
Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá,
quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos
lavandeiros." (Ml 3.1-2). Aqui, novamente, aquele que fala (o SENHOR dos
Exércitos") distingue-se do "Senhor, a quem vós buscais",
sugerindo duas pessoas separas, que podem ambas ser chamadas
"Senhor".
Em Oséias 1.7, o Senhor fala da casa de Judá: E os
salvarei pelo Senhor, seu Deus", novamente sugerindo que mais da uma
pessoa pode ser chamada "Senhor" (heb. Yahweh) e "Deus" (
'Elõhîm).
E em Isaías 18.16, aquele que fala (aparentemente o
servo do Senhor) diz: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu
Espírito". Aqui o Espírito do Senhor, como o servo do Senhor, foi
"enviado" pelo Senhor Deus para uma missão particular. O paralelismo
entre os dois objetos de enviar ("mim" e "o seu Espírito")
é compatível com a interpretação de que são pessoas distintas: parece
significar mais do que meramente "o Senhor enviou a mim e o seu
poder". De fato, do ponto de vista do Novo Testamento (que reconhece
Jesus, o Messias, como o verdadeiro Servo do Senhor predito nas profecias de
Isaías), Isaías 18.16 carrega implicações trinitárias: "Agora, o Senhor
Deus me enviou a mim e o seu Espírito", se dito por Jesus, o Filho de
deus, menciona as três pessoas da Trindade.
Além do mais, diversas passagens do Antigo
testamento sobre o "Anjo do Senhor" subentendem uma pluralidade
de pessoas em Deus. A palavra traduzida "anjo" (heb. mal'ak)
significa simplesmente "mensageiro". Se esse anjo do Senhor é um
"mensageiro" do Senhor, ele pe então distinto do próprio Senhor.
Porém, em algumas passagens o anjo do Senhor é chamado "Deus" ou
"Senhor" (ver Gn 16.13; Êx 3.2-6; 23.20-22 [repare "nele está o
meu nome" no v. 21]; Nm 22.35 com 38; Jz 2.1-2; 6.11 com 14). Em outros
trechos no Antigo Testamento "o Anjo do Senhor" simplesmente se
refere a um anjo criado, mas pelo menos nesses textos o anjo (ou
"mensageiro") especial do Senhor parece ser uma pessoa distinta e
plenamente divina.
Um dos textos mais polêmicos do Antigo Testamento
que poderia revelar personalidades distintas para mais de uma pessoa está em
Provérbios 8.22-31. Embora a parte anterior do capitulo possa ser compreendida
como meramente uma personificação da "sabedoria", com vistas a um
efeito literário, mostrando a sabedoria a chamar os simples e a convidá-los a
aprender, é possível argumentar que os vv. 22-31 dizem coisas sobre a
"sabedoria" que parecem ir além da mera personificação. Falando
do tempo em que Deus criou a terra, diz a sabedoria: "... então, eu estava
com ele e era arquiteto, dia após dia, eu era as suas delícias, folgando
perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e achando as
minhas delícias com os filhos dos homens (Pv 8.30-31). Atuar como
"arquiteto" junto de Deus na criação indica em si mesmo a idéia de
uma pessoas distinta, e as frases seguintes talvez sejam ainda mais
convincentes, pois apenas pessoas reais podem "dia após dia [ser] as suas
delícias" e também se alegrar no mundo e se deleitar com os filhos dos
homens.
Mas se decidimos que "sabedoria" aqui se
refere de fato ao Filho de Deus antes de ele se tornar homem, há uma
dificuldade. Os versículos de 22-25 parecem falar da criação dessa pessoa
chamada "sabedoria":
O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos,
desde então, e antes de suas obras.
Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra.
Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas.
Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra.
Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas.
Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.
Porventura não indica isso que tal
"sabedoria" foi criada?
Na verdade, não. A palavra hebraica que geralmente significa "criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa "obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui: "O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec 2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.
Na verdade, não. A palavra hebraica que geralmente significa "criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa "obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui: "O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec 2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.
2. A revelação
mais completa da Trindade no Novo Testamento.
Quando começa o Novo Testamento, entramos na
história da vinda do Filho de Deus à terra. Era de esperar que esse grande
acontecimento se fizesse acompanhar de ensinamentos mais explícitos sobre a
natureza trinitária de Deus, e de fato é isso que encontramos. Antes analisar a
questão com pormenores, podemos simplesmente listar várias passagens em
que as três pessoas da Trindade são mencionadas juntas.
Quando do batismo de Jesus, " ... e eis que se
lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre
ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo" (Mt 3.16-17). Aqui, ao mesmo tempo, temos os três membros da
Trindade realizando três ações distintas. Deus Pai fala de lá do céu; Deus
Filho é batizado e depois ouve a voz de Deus Pai vinda do céu, e o Espírito
Santo desse do céu para pousar sobre Jesus e dar-lhe poder para o seu ministério.
Ao final do seu ministério terreno, Jesus diz aos
discípulos que eles devem ir e fazer "discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19).
Os próprios nomes "Pai" e "Filho", baseados na família e
mais comum das instituições humanas, indicam com muita força a distinção das
pessoas do Pai e do Filho. E se o "Espírito Santo" é inserido
na mesma frase e no mesmo nível das outras duas pessoas. difícil é evitar
a conclusão de que o Espírito Santo é também, tido como pessoa e de posição
igual ao do Pai e do Filho.
Quando nos damos conta de que os autores do Novo
Testamento geralmente usam o nome "Deus" (gr. theos) para se referir
a Deus Pai e o nome "Senhor" (gr. Kyrios) para se referir a Deus
Filho, fica claro que há outro termo trinitário em 1 Coríntios 12.4-6
"Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade
de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o
mesmo Deus que opera tudo em todos."
Igualmente, o último versículo de 2 Coríntios é
trinitário na sua expressão: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de
Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém." (2 Co
13.13 ou 14). Verificamos também as três pessoas mencionadas separadamente em
Efésios 4. 4-6:"Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes
chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só
batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em
todos vós."
As três pessoas da Trindade são mencionadas juntas
na primeira frase de 1 Pedro: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai,
em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus
Cristo..." (1 Pe 1.2). E em Judas 20-21, lemos: "Mas vós, amados,
edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito
Santo, Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de
nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna."
Todavia, a tradução (dentro de colchetes,
significando que o texto em questão não tem apoio dos melhores manuscritos que
a ARA dá de 1 Jo 5.7 não deve ser usada com esse fim. Lê-se: "Pois são
três os que dão testemunho no céu: O Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e esses
três são um".
O problema dessa tradução é que ele se baseia num
número muito pequeno de manuscritos gregos pouco confiáveis, sendo o mais
antigo desses do século XIV d.C.. As melhores versões não incluem esse
trecho, mas o omitem, como o faz a grande maioria dos manuscritos gregos de
todas as traduções textuais de monta, inclusive vários manuscritos
bastante confiáveis dos séculos IV e C d.C., e também citações dos pais da
igreja, como Ireneu (m.c. 212 d.C.), Tertuliano (m. depois de 220d.C.) e
o grande defensor da Trindade, Atanásio (m. 373 d.C.).
B. TRÊS
DECLARAÇÕES QUE RESUMEM O ENSINO BÍLICO
Em certo sentido a doutrina da trindade é um
mistério que jamais seremos capazes de entender plenamente. Podemos, todavia,
compreender parte de sua verdade resumindo o ensinamento da Escrituras em três
declarações:
1. Deus é três pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
3. Há só um Deus
A seção seguintes desenvolverá mais detalhadamente
cada uma dessas declarações.
1. Deus é três
pessoas.
O fato de ser Deus três pessoas significa que o Pai
não é o Filho; são pessoas distintas. Significa também que o Pai não é o
Espírito Santo, mas são pessoas distintas. E significa que o Filho não é o
Espírito Santo. Essas distinções se mostram em várias das passagens citadas na
seção anterior, bem como em muitas outras passagens do Novo Testamento.
Jo 1.1-2 nos diz: "No princípio era o Verbo, e
o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus.". O fato de o "Verbo" (que se revela Cristo nos v. 9-18)
estar "com" Deus prova que ele é distinto de Deus Pai. Em João17.24,
Jesus fala a Deus Pai da "minha glória que me conferiste, porque me amaste
antes da fundação do mundo", revelando assim distinção de pessoas,
compartilhamento de glória e uma relação de amor entre o Pai e o Filho antes
que o mundo fosse criado.
Lemos que Jesus continua agindo como nosso Sumo
Sacerdote e Advogado perante Deus Pai: "Meus filhinhos, estas coisas vos
escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o
Pai, Jesus Cristo, o justo." (1 Jo 2.1). Cristo é aquele que "pode
também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre
para interceder por eles."(Hb 7.25). Porém, a fim de interceder por nós
perante Deus Pai, é necessário que Cristo seja um pessoa distinta do Pai.
Além disso, o Pai não é o Espírito, tampouco o
Filho é o Espírito Santo. Distinguem-se em vários versículos. Diz Jesus:
"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,
esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho
dito" (Jo 14.26). O Espírito Santo também ora ou "intercede" por
nós (Rm 8.27), indicando uma distinção entre o Espírito Santo e Deus Pai, a
quem se faz a intercessão.
Finalmente, o fato de o Filho não ser o espírito
Santo também está indicado em várias passagens trinitárias mencionadas
anteriormente, como a Grande Comissão (Mt 28.19), e em passagens que indicam
que Cristo voltou ao céu e então enviou o Espírito Santo à igreja. Disse Jesus:
"Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não
for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei." (Jo
16.7).
Alguns já questionaram se o espírito Santo é de
fato uma pessoa distinta, e não simplesmente o "poder" ou a
"força" de Deus em ação no mundo. Mas as evidências do Novo
Testamento são bem claras e fortes. Primeiro há os diversos versículos
mencionados acima, em que o Espírito Santo é revelado em coordenada relação com
o Pai e o Filho ( Mt 28.19; 2 Co 12.4-6; 2 Co 13.13ou14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2):
como o Pai e o Filho são ambos pessoas, a expressão coordenada indica fortemente
que o Espírito Santo também é uma pessoa. Depois há trechos em que o pronome
masculino ele(gr. ekeinos) se refere ao Espírito Santo (Jp 14.26; 15.26;
16.13-14), o que não seria de esperar em face das regras da gramática grega,
pois a palavra "espírito"(gr. pneuma) é neutra, não masculina, e a
ela normalmente se alude com o pronome neutro ekeino. Além do mais, o nome
consolador ou confortador (gr. parakeltos) é um termo comumente usado para
falar de uma pessoa que ajuda ou dá consolo ou conselho a outra pessoa ou
pessoas, mas se refere ao Espírito Santo no evangelho de João (Jo 14.16, 26;
15.23; 16.7).
Outras atividades pessoais são atribuídas ao
Espírito Santo, como ensinar (Jo 14.26), dar testemunho (Jo 15.26; Rm
8.16), interceder ou orar em nome de outros (Rm 8.26-27), sondar as profundezas
de Deus (1 Co 2.10), conhecer os pensamentos de Deus (2 Co 2.11), decidir
conceder dons para alguns, e outros para outros (1 Co 12.11), proibir ou não
permitir determinadas atividades (At 16.6-7), falar (At 8.29; 13.2; e muitas
vezes no Antigo como no Novo Testamento), avaliar e aprovar um proceder sábio
(At15.28) e se entristecer diante do pecado dos cristãos (Ef 4.30).
Por fim, se o Espírito Santo é interpretado
meramente como o poder de Deus, e não como pessoa distinta, então várias
passagens simplesmente não fariam sentido, pois nelas se mencionam tanto o
Espírito Santo quanto o seu poder, ou o poder de Deus. Por exemplo, Lucas 4.14
("Então, Jesus, no poder, regressou para Galiléia") significaria
então "Jesus, no poder do poder, regressou para a Galiléia". E atos
10.38 ("Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com
poder") significaria "Deus ungiu a Jesus com o poder de Deus e com
poder" (ver também Rm 15.13; 1 Co 2.4).
Embora tantas passagens distingam claramente o
Espírito Santo dos outros membros da Trindade, 2 Coríntios 3.17 se revela um
versículo desconcertante: "Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o
Espírito do Senhor, aí há liberdade.". Os interpretes muitas vezes supõem
que "Senhor" aqui só pode ser Cristo, pois Paulo usa freqüentemente
"Senhor" para referir a Cristo. Mas provavelmente não é esse o caso
aqui, pois a gramática e o contexto nos fornecem bons argumentos para dizer que
esse versículo tem melhor tradução com o Espírito Santo o sujeito: "Ora, o
Espírito é o Senhor ...". Nesse caso, Paulo estaria dizendo que o
Espírito Santo é também "Jave" (ou "Jeová), o Senhor do Antigo
Testamento (repare o claro pano de fundo do Antigo Testamento que se revela nesse
contexto, a partir do v. 7). Teologicamente, isso seria aceitável, pois sem
dúvida se pode dizer qua assem como Deus Pai é "Senhor" e Deus Filho
é "Senhor" (no pleno sentido de "Senhor" no Antigo
Testamento como nome de Deus), também o Espírito Santo é chamado
"Senhor" no Antigo Testamento - e é o Espírito Santo que nos
manifesta especialmente a presença do Senhor na era da nova aliança.
2. Cada pessoa
é plenamente Deus.
Além do fato de serem as três pessoas distintas as
Escrituras dão farto testemunho de cada pessoa é plenamente Deus.
Primeiro, Deus Pai é claramente Deus. Isso se
evidencia desde o primeiro versículo da Bíblia no qual Deus cria o céu e a
terra. É evidente em todo o Antigo e Novo Testamento, no quais Deus Pai é
retratado nitidamente como Senhor soberano de tudo e onde Jesus orar ao seu Pai
celeste.
Também, o Filho é plenamente Deus. Embora esse
ponto seja desenvolvido com mais por menores no capítulo 26 [da Teologia
Sistemática deste autor, donde tiramos este estudo] ("A Pessoa de
Cristo"), podemos aqui mencionar de passagem vários trechos explícitos.
João 1.1-4 afirma claramente a plena divindade de Cristo:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a
vida, e a vida era a luz dos homens.
Aqui, Cristo é o "Verbo", e João diz que
ele estava "com Deus" e também que ele "era Deus". O texto
grego repete as palavras iniciais de Gênesis 1.1 ("No princípio...")
e nos lembra de que João está falando de algo que já era verdade antes
que o mundo fosse criado. Deus Filho sempre foi plenamente Deus.
A tradução "o Verbo era Deus" foi
contestada pelas testemunhas-de-jeová, que vertem "o Verbo era um
deus", implicando que o Verbo era simplesmente um ser celestial, mas
não plenamente divino. Eles justificam essa tradução salientando que o artigo
definido (gr. ho, "o") não aparece antes da palavra grega theos
("Deus). Dizendo que theos deve ser traduzido como "um deus".
Porém, tal interpretação nunca foi acatada por nenhum estudioso grego de
lugar algum, pois é sabido que a frase segue uma regra normal da gramática
grega, e ausência do artigo definido indica meramente que "Deus" é o
predicado, e não o sujeito da frase. (Uma publicação recente das
testemunhas-de-jeová reconhece hoje essa relevante gramatical, mas assim mesmo
persiste na sua posição a respeito de João 1.1).
A incoerência da posição das testemunhas-de-jeová
pode ser vista na tradução que dão ao restante do capítulo. Por diversas outras
razões gramaticais, a palavra theos também dispensa o artigo definido em outros
pontos do capítulo, como no versículo 6 (Houve um homem enviado por
Deus"), no versículo 12 ("poder de serem feitos filhos de
Deus"), no versículo 13 ("mas de Deus") e no versículo 18
("Ninguém jamais viu a Deus"). Se as testemunhas-de-jeová fossem
coerentes no seu argumento sobre a ausências do artigo definido, teriam de
traduzir todos esses versículos com a expressão "um deus",mas usaram
"Deus" em todos eles.
João 20.28, no seu contexto, também é uma sólida
prova em favor da divindade de Cristo. Tomé duvidava do relatos dos outros
discípulos, de que haviam visto Jesus ressuscitado, e disse que não acreditaria
se não visse as marcas dos cravos nas mãos de Jesus e não lhe tocasse com a mão
na ferida do lado (jo 20.25). Então Jesus apareceu novamente aos discípulos,
estando agora Tomé com eles. Disse a Tomé: "Põe aqui o dedo e vê as minhas
mãos; chega também a mão e põe no me lado; não seja incrédulo, mas crente""
(Jo 20.28). Aqui Tomé chama Jesus de "Deus meu". A narrativa mostra
que tanto João no modo com escreveu o seu evangelho quanto o próprio Jesus
aprovam o que Tomé disse e incentivam todos os que ouvirem falar de Tomé a crer
nas mesmas coisas em que Tomé creu. Jesus imediatamente disse a Tomé:
"Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram"
(Jo 20.29). Quanto a João, esse é o momento dramático mais forte do evangelho,
pois ele logo a seguir diz ao leitor - já no versículo seguinte - que esta é a
razão pela qual ele o escreveu:
"Jesus, pois, operou também em presença de
seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. "(Jo 20.30-31)
Jesus fala daqueles que, mesmo sem o ver crerão, e
João logo diz ao leitor que ele registrou os acontecimentos no evangelho para
que todos também creiam assim, imitando Tomé na sua confissão de fé. Em outras
palavras, todo o evangelho foi escrito para convencer as pessoas a imitar Tomé,
que sinceramente chamou Jesus de "Senhor meu e Deus meu". Como esse é
o motivo exposto por João como propósito do seu evangelho, a afirmação se
reveste de autoridade.
Outras passagens afirmam a plena divindade de
Jesus, como Hebreus 1, onde diz que Cristo é a "expressão exata" (gr.
charakter, "reprodução exata") da natureza ou ser (gr. hypostasis) de
Deus - significando que Deus Filho reproduzia o ser ou a natureza de Deus Pai
em todos os aspectos: todos os atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus
Filho também os tem. O autor ainda se refere ao Filho como "Deus" no
versículo 8 ("Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o
sempre") e atribui a criação dos céus a Cristo ao dizer dele:
"No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são
obras das tuas mãos" (Hb 1.10; citando Sl 102.25). Tito 2.13 refere-se ao
"nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" e 2 Pedro 1.1 fala da
"justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo". Romanos 9.5, falando
do povo judeu, diz: "Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a
linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de tudo, bendito para sempre!
Amém" (NVI).
No Antigo
Testamento, Isaías 9.6 profetiza:
Porque um
menino nos nasceu, um filho se nos deu,
e o principado está sobre os seus ombros,
e se chamará o seu nome:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte ...
e o principado está sobre os seus ombros,
e se chamará o seu nome:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte ...
Aplicando a Cristo, essa profecia refere-se a ele
como "Deus Forte". Observe aplicação semelhante dos títulos
"Senhor" e "Deus" na profecias da vinda do Messias em
Isaías 40.3: "Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a
nosso Deus", citada por João Batista na preparação para vinda de Cristo em
Mateus 3.3.
Muitas outras passagens serão discutidas no
capítulos 26, [da Teologia Sistemática deste autor], abaixo, mas essas já devem
ser suficientes para demonstrar que o Novo Testamento claramente se refere a
Cristo como Deus pleno. Como diz Paulo em Colossenses 2.9, "Porquanto,
nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade."
Além disso, O Espírito Santo é também plenamente
Deus. Uma vez que entendemos que Deus Pai e Deus Filho são plenamente Deus,
então as expressões trinitárias em versículos com Mateus 28.19
("batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo") se
revestem de relevância para a doutrina do Espírito Santo, pois mostram que o
Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho. Isso se
verifica quando percebemos quão impensável seria que Jesus dissesse algo como
"batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do arcanjo Miguel", dando
a um ser criado uma posição totalmente descabida, mesmo para um arcanjo. Os
crentes de todas as épocas sempre foram batizados em nome (assumindo, portanto,
o caráter) do próprio Deus. (Note também as outras passagens trinitárias
mencionadas acima: 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2; Jd 20-21.)
Em atos 5.3-4, Pedro pergunta a Ananias: "Por
que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo [...]? Não
mentiste aos homens, mas a Deus". Segundo as palavras de Pedro, mentir ao
Espírito Santo é mentir a Deus. Paulo diz em 1 Coríntios 3.16: "Não sabeis
que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" O
templo de Deus é o local onde o próprio Deus habita, o que Paulo explica pelo
fato de que o "Espírito de Deus" ali habita, aparentemente igualando
o Espírito de Deus ao próprio Deus.
Davi pergunta em Salmos 139.7-8: "Para onde me
irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença? Se subir ao céu, tu
aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também."
Essa passagem atribui a características divina da onipresença ao Espírito
Santo, algo que não se aplica a nenhuma das criaturas de Deus. Parece que Davi
faz equivaler o Espírito de Deus à presença de Deus. Ausentar-se do Espírito de
Deus é ausentar-se da sua presença, mas se não há lugar para onde Davi pode
fugir do Espírito de Deus, então ele sabe que aonde quer que vá terá de dizer:
"Tu estás aí".
Paulo atribui a característica divina da
onisciência ao Espírito Santo em 1 Coríntios 2.10-11: "Porque Deus no-las
revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos
as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão
o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus [ou os
pensamentos de Deus], ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.".
Além disso, o ato de dar novo nascimento a todo
aquele que nasce de novo é obra do Espírito Santo. Disse Jesus:"... quem
não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é
nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te
admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo" (Jo 3.5-7). Mas o ato
de dar nova vida espiritual às pessoas quando se tornam cristãs é algo que só
Deus pode fazer (cf. 1 Jo 3.9, "nascido de Deus"). Essa passagem
portanto dá nova indicação de que o Espírito Santo é plenamente Deus.
Até aqui temos duas conclusões, ambas fartamente
ensinadas em toda a Bíblia:
1. Deus é três
pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
Se a Bíblia ensinasse somente esses dois fatos, não
haveria nenhuma dificuldade lógica em emparelhá-los, pois a solução óbvia seria
que existem três Deuses. O Pai é plenamente Deus, o Filho é plenamente Deus e o
Espírito santo é também plenamente Deus.Teríamos um sistema com três seres
igualmente divinos. Tal crença se chamaria politeísmo - ou, mais
especificamente, "triteísmo", ou crença em três Deuses. Mas isso
passa bem longe do que ensina a Bíblia.
3. Só há um
Deus.
As Escrituras deixam bem claro que só existe um
único Deus. As três diferentes pessoas da Trindade são um não apenas em
propósito e em concordância no que pensam, mas um em essência, um na sua
natureza essencial. Em outras palavras, Deus é um só ser. Não existem três
Deuses. Só existe um Deus.
Uma das passagens mais conhecidas do Antigo
Testamento é Deuteronômio 6.4-5: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda
a tua alma, e de todas as tuas forças."
Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses?
Quem é como tu glorificado em santidade,
admirável em louvores, realizando maravilhas? (Ex 15.11),
Quem é como tu glorificado em santidade,
admirável em louvores, realizando maravilhas? (Ex 15.11),
a resposta obviamente é: "ninguém. Deus é
único, e não há ninguém como ele nem pode haver ninguém como ele. De fato,
Salomão ora "para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus,
e que não há outro." (1 Rs 8.60).
Quando Deus fala, repetidamente deixa claro que ele
é o único Deus verdadeiro; a idéia de que existem três Deuses a adorar, e não
um só, seria impensável diante de declarações tão veementes. Só Deus é o únicos
Deus verdadeiro, e não há nenhum outro como ele. Quando ele fala, só ele fala
- não fala como um Deus dentre três que devem ser adorados. Mas diz:
Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há
Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças;
Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45.5-6).
Do mesmo modo, ele convoca toda a terra a olhar
para ele:
Não há outro Deus, senão eu,
Deus justo e Salvador
não há além de mim.
Deus justo e Salvador
não há além de mim.
Olhai para mim e sede salvos,
vós, todos os limites da terra;
porque eu sou Deus, e não há outro (Is 45.21-22; cf. 44.6-8).
vós, todos os limites da terra;
porque eu sou Deus, e não há outro (Is 45.21-22; cf. 44.6-8).
O Novo Testamento também afirma que só há um Deus.
Escreva Paulo: "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo homem." (1 Tm 2.5). Paulo afirma que "Deus é um
só" (Rm 3.30) e que "há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas
e para quem existimos" (1 Co 8.6). Por fim, Tiago admite que até os
demônios reconhecem que só há um Deus, ainda que essa aceitação intelectual do
fato não seja suficiente para salvá-los: "Tu crês que há um só Deus; fazes
bem. Também os demônios o crêem, e estremecem." (Tg 2.19). Mas nitidamente
Tiago afirma que "faz bem" quem crê que "Deus é um só".
4. As soluções
simplistas necessariamente neguam um dos ensinamentos bíblicos.
Agora temos
três proposições, todas elas ensinadas nas Escrituras.
1. Deus é três
pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
3. Só há um Deus.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
3. Só há um Deus.
Ao longo de toda a história da igreja houve
tentativas de encontrar uma solução simples para doutrina da Trindade pela
negação de uma ou outra dessa proposições. Caso se negue a primeira proposição
[1. Deus é três pessoas.], então resta-nos simplesmente o fato de que cada uma
das pessoas mencionadas nas Escrituras (Pai, Filho e Espírito Santo) é Deus, e
há um só Deus. Mas se não precisamos dizer que são pessoas distintas, então há
uma solução fácil: não passam de nomes diferentes para uma pessoa que age de
modos diversos em situações distintas. Às vezes essa pessoa se chama Pai, às
vezes se chama Filho, às vezes se chama Espírito. Não temos dificuldade para
compreender isso, pois sabemos por experiência própria que a mesma pessoa pode
agir em dada situação como advogado (por exemplo), noutra como pai dos seus
filhos e noutra como filho diante dos seus pais; a mesma pessoa é advogado, pai
e filho. Mas tal solução negaria o fato de que as três pessoas sejam indivíduos
distintos, de que Deus Pai envia Deus Filho ao mundo, de que o Filho ora ao Pai
e de que o Espírito santo intercede junto ao Pai por nós.
Outra solução simples surge pela negação da segunda
proposição [2. Cada pessoa é plenamente Deus.], ou seja, negar que algumas das
pessoas mencionadas nas Escrituras são de fato plenamente Deus. Se simplesmente
sustentamos que Deus é três pessoas e que só há um Deus, então podemos ser
tentados a dizer que algumas dessas "pessoas" desse Deus único não
são plenamente Deus, mas apenas partes subordinadas ou criadas de Deus. Essa
solução seria adorada, por exemplo, por aqueles que negam a plena divindade do
Filho (e do Espírito Santo). Mas, como vimos acima, essa solução teria de negar
toda uma classe de ensinamentos bíblicos.
Por fim, como já observamos acima, uma solução
simples poderia vir pela negação da existência de um só Deus. Mas isso
resultaria na crença em três Deus, algo claramente contrário às Escrituras.
Embora o terceiro erro não seja comum, como veremos
abaixo, cada um dos dois primeiros erros já apareceu num momento ou noutro da
história da igreja, e ainda persiste hoje dentro de alguns grupos.
5. Todas as
analogias têm falhas.
Se não podemos adotar nenhuma dessas soluções
simplistas, então como juntar as três verdade bíblicas para assim sustentar a
doutrina da Trindade? As pessoas já usaram várias analogias retiradas da
natureza ou da experiência humana para tentar explicar essa doutrina. Embora
tais analogia sejam úteis num nível elementar de compreensão, todas elas se
revelam inadequadas ou ilusórias numa reflexão mais aprofundada. Dizer, por
exemplo,que Deus é como um trevo de três folhas, que mesmo tendo três partes é
apenas um trevo, não é satisfatório, pois cada folha apenas faz parte do trevo,
e não se pode dizer que nenhuma das folhas é todo o trevo. Mas na Trindade,
cada uma das pessoas não é apenas uma parte separada de Deus, mas plenamente
Deus. Além disso, a folha de um trevo é impessoal e não tem portanto
personalidade distinta e complexa como cada pessoa da Trindade.
Outros já usaram a analogia das três partes de uma
árvore: raiz, tronco e ramos constituem uma só arvore. Mas surge um problema
semelhante, pois trata-se somente de partes de uma árvore, e não se pode dizer
que nenhuma dessas partes é a árvore inteira. Além do mais, nessa analogia as
partes têm propriedade distintas, diferentemente das pessoas da Trindade, que
possuem todos os atributos de Deus em igual medida. E a ausência de personalidade
em cada uma das partes é outra deficiência.
A analogia das três formas de água (vapor, água e
gelo) é também inadequada, porque: (a) nenhuma quantidade de água jamais é ao
mesmo tempo todas as três formas, (b) as três formas têm propriedades ou características
diferentes, (c) a analogia nada tem que corresponda ao fato de existir somente
um Deus (mas existe algo como "uma só água" ou "toda a água do
universo") e (d) falta o elemento da personalidade inteligente.
Outras analogias foram derivadas da experiência
humana. Poder-se-ia dizer que a Trindade é como um homem que é ao mesmo tempo
fazendeiro, prefeito da sua cidade e presbítero da sua igreja. Ele desempenha
papéis diferentes em momentos distintos, mas é um só homem. Porém, essa
analogia é bastante falha, pois só uma pessoa executa essas três atividades em
momento diferentes, e o modalismo não contempla a relação pessoal entre os
membros da Trindade. (Na verdade, essa analogia simples ensina a heresia
chamada modalismo, discutida abaixo.)
Outras analogia retirada da vida humana é a união
entre intelecto, emoções e vontade numa pessoa. Embora sejam componentes de uma
personalidade, nenhum desses fatores constitui a pessoa inteira. E as partes
não são de características idênticas, mas têm capacidades distintas.
Então que analogia usaremos para explicar a
Trindade? Embora a Bíblia use muitas analogias derivadas da natureza e da vida
para nos ensinar aspectos diversos do caráter de Deus (Deus é como uma rocha na
sua fidelidade, como um pastor no seu cuidado, etc.), é interessante notar que
nenhum trecho das Escrituras se acha alguma analogia que explique a doutrina da
Trindade. O mais próximo que chegamos de uma analogia se encontra nos próprios
títulos "Pai" e "Filho", títulos que nitidamente dizem respeito
a pessoas distintas e à íntima relação que existe entre os dois numa família.
Mas no plano humano, logicamente, temos dois seres totalmente distintos, nenhum
deles formado de três pessoas distintas. É melhor concluir que nenhuma analogia
explica adequadamente a Trindase, que todas são ilusórias em aspectos
importantes.
6. Deus existe
eterna e necessariamente como Trindade.
Quando o universo foi criado, Deus Pai proferiu as
potentes palavras criadoras que o gerarem; Deus Filho foi o agente divino que
executou essas palavras (Jo 1.3; 1 Co 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2) e o Espírito de
Deus "pairava por sobre as águas" (Gn 1.2). Então é como seria de
esperar: se os três membros da Trindade são iguais e plenamente divinos, então
todos eles existiram desde a eternidade, e Deus sempre existiu eternamente como
Trindade (cf. também Jo 17.5,24). Além disso, Deus não pode ser diferente do
que é, pois é imutável. Portanto, parece correto concluir que Deus existe
necessariamente como Trindade - não pode ser diferente do que é.
Pense nisso!
Do seu Pastor: Samuel José dos Santos Filho
A graça do Nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo,
E o amor de Deus,
E as doces comunhão e
consolações do Espírito Santo,
Sejam com todos vós,
E com todo povo de Deus espalhados sobre a
face da terra,
Desde agora e para todo
Sempre,
Amém.
Comentários
Postar um comentário